Dicionário

Dicionário me perdoe, mas por que ultimamente você parece só um grande livro? Suas definições não dão em nada. Consegue sentir o sabor das palavras que você definiu: amor, saudade, dor, agonia? Certamente não consegue nem definir as cores, sentir o que elas proporcionam. Eu sei, é puro desespero procurar nas suas entrelinhas algo que me acalme, algo que me contente. Mas nem definir desespero você sabe. Nunca conseguiu sentir cada poro do seu corpo ardendo por qualquer coisa banal que a vida não te deu. Eu não sei de quem deveria ter mais pena, se é de você tão grande e sábio. Ou de mim, tão cheia de tentar saber.
Do que adiante definir do A ao Z cada coisa que a vida lhe proporciona sem ter sentindo com cada dia que passou. Certamente, a loucura me atacou de certa forma que eu culpo até você, pequeno grande Dicionário por ser tão inútil. Na verdade procurava mais do que definições, procurava cura, promessa, caminho.
Queria que você me desse mais do que algumas palavras, queria que você me desse a receita de cada palavra que eu te gritasse. Receita com cor, sabor, calor. Que ao lamber os lábios depois de te ler, eu ficasse satisfeita.
É claro que não é culpa sua, não precisa se desculpar. Você só foi mais uma tentativa essa semana de qualquer coisa. Uma tentativa desesperada de me livrar de tudo que tem me deixado cheia, enorme de tão pequena que me sinto.
Quem eu culpei semana passada foi o Esquecimento, falei que ele só aparecia quando eu não queria e quando eu implorava sua ajuda ele mandava a Lembrança em seu lugar. (Como se ela fosse colaborar, além de me lançar contra o chão com vozes ao pé do ouvido.)
Se eu tivesse pegado a Lembrança teria esmagado ela em partes tão pequenas que conseguiria fechar dentro de você, Dicionário. Mas ela é tão traiçoeira que não se firma em lugar nenhum, é como pegar um punhado de água e fechar a mão. Você a sente escorregando, indo embora.
Tchau Dicionário, qualquer coisa eu te procuro mesmo sabendo que você (as vezes) parece saber menos que eu.
(Hoje: hoje a tristeza não é passageira - eu definitivamente odeio a esperança, odeio.)