"Sou dela"

Ele sabe.
A vida será sempre assim, viver somente, sem ele, sendo dele inteiramente. Inteiramente, já é meu dom de exagerar, mas apenas algumas tardes perdidas no calendário. E aprender a viver hoje, é aceitar esse querer tão forte e primoroso. Aceitar aquela dor (já amiga) que sinto quando alguém, sem querer, sem saber do meu passado (e do meu futuro sonhado), coloca no rádio Nando Reis, ou simplesmente canta um verso de Relicário. Esquecer, eu não esqueci. Para ser mais honesta, me lembro de tudo que nem aconteceu. Mas já aceitei que ele foi, e que não voltará, por sei-lá-o-que.
Mas não posso evitar o amor que enfeitei em mim. Uma tatuagem eu não posso simplesmente passar a mão para fazê-la sumir, tampouco uma cicatriz desse tamanho, pintada de vontade de viver. Uma cicatriz viva e sorridente é a maior ironia da minha vida.
Não que eu não tenha me entregado a outro antes, ou depois. Mas ele sabe o quanto fui dele, mesmo que ele não tenha aceitado.

Vai sim, vai ser sempre assim. A sua falta vai me incomodar, e quando eu não aguentar mais vou chorar baixinho pra ninguém ouvir.