Briga antiga

Ontem aqui em casa teve uma briga feia, eu nem sei se vale à pena contar. Afinal briga assim a gente joga na privada da descarga e esquece, nunca mais toca no assunto. Mas quem sabe se eu escrever sobre ela agora (enquanto ainda lembro delhate-por-detalhe) eu não consiga tirar proveito disso.

Tudo começou quando a Jéssica chegou com um pecado de pizza. Eu, muito esperta, comi a pizza enquanto escutava a Jéssica falar. O papo era bom, mas certamente a Esperança viu mais cores do que eu naquele assunto, então quando notei a Esperança já estava sentada conosco, toda intensa e brilhando até demais. Acho que da cozinha a Razão ouviu quando a Jéssica sugeriu loucuras pra Esperança, então correu pro quarto e bloqueou a saída, a porta.
Logo estava as três discutindo. Enquanto eu estava sendo imparcial, concordava com a Jéssica, apoiava a Esperança, mas não tirava os motivos da Razão. (A Razão sempre teve muitos motivos, a Esperança gostava mesmo de ilusão, mas havia horas que nenhuma das duas acertava.)
Isso levou horas, um argumento mais lindo do que o outro. A Esperança parecia ter saído de um filme de romance, não um água-com-açúcar, era um clássico com trilha sonora e tudo. Já a Razão dava um show de bola sobre como evitar o corte. Enfim...
A Esperança pegou o telefone e a Razão a olhou tão feio que a chamada não se completou, por minutos achei que a Razão havia ganhado.
(Confesso que estava louca para saber quem ganharia!)
Passado algum (pouco) tempo, a Esperança se levantou e com um último suspiro pegou o telefone e discou novamente. Dessa vez atenderam e não precisou de muito tempo pra ela desligar o telefone aos prantos. A Razão não falou nada, já bastava o que tinha acabado de acontecer.
Depois do choro a Esperança levantou-se e foi embora, disse que não pretendia voltar e se desculpou.
A Razão ta de mala desfeita, disse que decidiu passar umas férias comigo.
Já a Jéssica foi embora correndo, porque já havia passado das duas da madrugada.

E eu... acho tudo isso uma pena. Querendo ou não eu era louca de amores pela pobrezinha da Esperança.

-Não é todo mundo que decidi ligar pra alguém às duas da manhã pra falar uma coisa dessas.
Bom, na verdade até hoje não vi ninguém! E depois... já foi!



(Hoje: foi ótimo, afinal a briga foi ontem. Quando acordei isso já não me machucava, não me alegrava, não dava em nada. Afinal, Depois não existe mais.)