O avesso dos ponteiros

Sempre chega a hora da solidão. Sempre chega a hora de arrumar o armário. O tempo passa engraxa a gastura do sapato, na pressa a gente não nota que a lua muda de formato. Pessoas passam por mim, pra pegar o metrô. Confundo a vida ser um longa metragem, o diretor segue seu destino de cortar as cenas, e o velho vai ficando fraco esvaziando os frascos e já não vai mais ao cinema.
Penso quando você partiu assim, sem olhar pra trás. Como um navio que vai ao longe, já nem se lembra do cais. Os carros na minha frente vão indo, eu nunca sei pra onde, será que é lá que você se esconde?
A idade aponta na falha dos cabelos. Outro mês aponta na folha do calendário. As senhoras vão trocando o vestuário. As meninas viram a página do diário. O tempo faz tudo valer a pena, e nem o erro é desperdício. Tudo cresce. E o início deixa de ser início e vai chegando ao meio, aí começo a pensar que nada tem fim.
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você.
(De novo: porque senti bastante.)