(Sem urgência alguma)

As únicas certezas que tenho, agora, são que:

Primeira: vou sentir uma agonia irreversível quando te enviar isto, mas já me acostumei com essa sensação.

Segunda: já conheço sua reação, parece até que posso prever sua feição entediada.

Quem me dera ser surpreendida. E se fosse para usar a lógica não estaria escrevendo, aliás, nunca utilizei esse artifício quando o assunto era você. Tomara que eu quebre essa rotina, daqui pra frente.

Não me faço mais perguntas retóricas, não farei o mesmo com você; Só queria me confessar, como se só assim eu conseguisse me livrar da culpa, quero sua absolvição, como se só você pudesse aprisionar o que eu (há muito tempo) libertei.

Você ganhou, eu desisto! Praticamente um ano levantando para cair novamente. Tentei de tudo para esquecer, e por dois ou três meses acreditei estar estabilizada, mas não demorou muito para cair em mim, e ver que eu ainda estava chocada com a velocidade que as coisas aconteceram. Fui do “eu te amo” na sexta-feira, para um “acho melhor terminarmos” na segunda.

(Observação: Só para esclarecer bem, essa já não é outra tentativa desesperada de te arrancar explicações que não existem. Como já disse no começo, sou capaz de ver sua cara de “puta que pariu, de novo. Ainda...” E olha, no seu lugar eu não faria diferente.)

É ridícula essa atitude “efusiva”, mas tente me entender, se ainda não entende meus sentidos impulsivos, um dia entenderá (assim espero, não quero que você seja “O Vencedor”, apesar de nessa situação cometermos os piores clichês (os mais cafonas, definitivamente) sentimos as maiores e melhores agonias). Ontem assisti o show do Los Hermanos, na multishow, vinte e seis músicas, e alguns comerciais, e eu só pensava em te escrever. Essa é uma das milhares de cartas que te escrevi, talvez a mais sensata (Sensatez seria não escrever.).

Queria antes de me desprender do sentimento fazer leves comentários que durante esse quase um ano eu carreguei. Os seus detalhes. Claro que não conheço 1% do que você realmente é, mas me apaguei a algumas coisas. O que mais me chamava atenção era seu sorriso, porque ele é diferente, nada de metáforas, é porque sua boca é bem desenhada, e não é larga como a minha qualquer esboço de sorriso meu já é um sorrisão. A sua não, exige um esforço imperceptível (não aos meus olhos) para o sorriso ser completo, o que faz dele mais precioso. Vez ou outra eu tentava marcar tudo o que reparei em você, retardava o esquecimento o máximo possível. Lembrava da sua voz; suas mãos; sua cor; suas meias brancas e apertadinhas nas canelas; suas cicatrizes (lembro de cada uma e dos porquês, que você me contou); lembro até de uma pinta perto do umbigo que eu nunca vi; dos seus comentários (passarinhos que cantam, poemas antes de dormir); da maneira como você é (era?) desastrado; dos beijos rapidinhos e curtos na hora de dar tchau; e de como você colocava as mãos no meu rosto; como você me surpreendia, de todos, o que mais aparecia sem avisar.


Durante os primeiros seis meses eu achava que o que sentia por você era uma doença (e para ser sincera, ainda tenho dúvidas quanto a isso). Eu sempre me perguntava onde o garoto que me levou até a porta da escola, falando pelo caminho sobre uma palestra na escola, e quando eu perguntei qual era o assunto, não soube explicar. Onde esse garoto estava? Que nesse mesmo dia me abraçou e falou algo como “falar o que sente enquanto sente não deixar para depois”. Desde esse dia é isso que eu tenho feito. Não me arrependo de estar errada, de ser precipitada, só de não ter dito tudo. Você já deve saber de cor o meu blá blá blá, e eu já sei o seu. “Estou numa fase diferente”. Nunca entendi o que estava nessa entrelinha. Se tivesse me falado de um outro alguém, eu teria quem odiar. Ou sobre medo, teria assinado contratos de fidelidade (de todas as formas possíveis) a você. Creio que, por você, eu teria feito tudo. Mas o motivo disso tudo é que eu cansei de ter esperanças em algo que não me da rastro de fé. Cansei de fazer um esforço enorme. Ainda me nego a esquecer completamente o que apreciei tanto. Mas talvez o vento leve, e o mar traga novamente. Desisti.

Você sempre me falou que não sabia o que falar, quando eu me abria com você. Bom, a partir de hoje não precisa falar nada, já conheço seu silêncio.

Por que você foi pra tão longe? Não precisava tanto, bastava só não telefonar.
O que aconteceu? O ar não foi sufiente? Você sumiu, você não viu, mudou de lugar.


Enviado!