Não é assim que se escreve um texto, nem é a maneira certa para contar uma história, não é assim que se consegue fôlego para viver. Isso é apenas mais um erro que eu não soube resistir. Me deixei seduzir pela desordem da pontuação, achei incrível não parar, nunca, sem chances de notar a aberração que eu criara com a minha imaginação ilimitada. Talvez ‘se deixar levar’ seja uma manobra muito perigosa, é preciso mais do que loucura pura para ir mesmo sabendo que não haverá ponto de chegada, apenas um retorno desprezível (quem nessa vida desejou encontrar um retorno? Isso não se traduz como sonho, mas como mesmice). Quando foi que me recusei a utilizar pontos? Acho que desde sempre. Sempre colocava vírgulas, uma pausa para puxar todo o ar disponível, e continuar mesmo sem por que. Uma pausa leve, invisível, só para não morrer no meio do caminho por mero descuido. Eu preciso de um ponto. Não um ponto qualquer, que após ele ainda haja o mesmo contexto abominável. Nem um ponto que, disfarçadamente, me deixasse falar do que eu supostamente deveria esquecer. Precisava do PONTO, mesmo que não pudesse vê-lo. E eu precisava saber que lado desse ponto ficaria.
Antes: Relendo as vírgulas de trás pra frente, cansada de reviver o que não existe mais.
Depois: Num lado que nunca tive coragem para abrir os olhos e encarar a escuridão, ou o brilho, que ofusca.