Aposto que esperou um telefonema meu no sábado, já alto da noite. Isso porque encontrou um dos meus pelas ruas a perambular. Não dissestes meu nome nem em pensamento, e fez bem, pois o mais leve sussurro me ensurdeceria de vez, por tanto que espero tal voz. Esperou meu telefonema, mesmo prevendo que não me atenderia, e sabes que não fez por menos. Duas ou três vezes me passou pela cabeça enfrentar-te madrugada adentro novamente. Se não liguei foi porque me faltou o número e argumento razoável. Sinceramente, só o número faltou de fato, pois argumento tenho as pencas. Seria até eloqüente se tu atendeste.
Antes disso liguei a outros. Nem maiores, nem menores que você, mas sempre tão diferentes. Arrependi-me, é claro, sempre há arrependimento nessas ligações noturnas. Mas logo cessou a inquietação. Era aritmético: ligava, desligava, arrependia-me e esquecia. Para fazer tudo novamente tempos depois.
E se não liguei para ti foi somente porque me falou o maldito número, pois bem sabes que não me falta nada, nem amor, nem perdão, nem argumento, nem compreensão, todo o resto é o que me sobra.