O nome do blog, começou com:

Chovia naquela tarde que eu não reparava nos passos pelo quarto. Quando me percebi estava quase com as mãos sob a porta do armário (velho), este mesmo, já esteve tantos anos comigo. A porta estava entreaberta, assim como a minha atenção naquele momento. Foi quando, como num soluço repentino, abri a porta por inteiro me enchendo de poeira das lembranças. Há quando tempo não parava diante aquele pobre armário para analisar sua textura, seu contexto? Com a corria dos meus dias lentos acabei me acostumando com o cesto de roupa suja, tirando-as de lá tão somente para lavá-las de qualquer forma e jogar novamente no corpo. Tanto descaso. E o que ficou no armário foi tudo que não cabia nos meus dias, nem no meu cesto, nem no corpo, nem no tanque.
Lá estava toda minha indagação com as mãos na porta, já aberta. Depois de muito analisar as marcas da madeira e a maneira como cada coisa estava preenchendo, me movi.
Havia quase tudo ali, muita coisa que já não poderia aprovar, ou quase tudo. Meu olho vermelho e úmido devido a minha alegria do passado me fazia piscar rapidamente, como quem não acredita no que está vendo. Acho que permaneci assim durante muito tempo.
Foi quando uma formosa mosca tomou a minha frente e entrou estreando (novamente) aquele universo velho e surrado. A mesma desfilou entre tantas cores procurando um aeroporto para repousar. Eu apenas a analisei, bestificada. E a formosa mosca encontrou seu lugar, era uma blusa que parecia de uma criança de uns doze anos. Linda! Divertida. Me parecia muito confortável, também. Daquelas que você usa quando chove, quando saí o sol, quando dorme e quando vai passear de trem. Ela parecia pertencer a palavra: conforto. Me lembro dela ter dito, outrora: Fique comigo até que eu me estrague, e te juro não estragar (!). Por mais que venha os dias quentes, pode me colocar sob seu braço fino, prometo não lhe fazer muito peso; e quando não houver espaço nos seus braços, me guarde na mochila, na esquina, na sua vida. Quando o dia for muito quente ficarei esperando a noite chegar para lhe fazer companhia, lhe aquecer. Entre tantas outras juras de amor que ela me fazia.
Meus olhos se irritavam ainda mais devido a terrível alegria e acabei encharcando minhas bochechas de água clara e salgada, estas rolaram até meu seio onde permaneceram até secar.
Não pude controlar meu impulso e joguei a mosca uns cem metros tomando a blusa para mim. Pobre dela, mas aquela blusa me pertencia de alguma forma. Tomei-a pelas minhas mãos e deixei a minha boca se abrir para respirar todo ar que pudesse. Fechei meus olhos a imaginar – tenho que confessar que a imaginação já era uma amiga de longa data.
Ao sentir a blusa entre meus dedos, tentei me lembrar da beleza que ela já pertenceu, tentei tanto. Queria mergulhar no passado, mas já não havia caminhos para retornar. Analisei fio a fio. O que era antes colorido – até demais, diga-se de passagem -, acabara por se tornar quase um verde musgo. Cor de quem perdeu toda a inocência do querer ser bom, bom o bastante para tão somente ser. O que antes era macio se tornou apenas seco e indiferente.
Mas vou explicar porque se deve tantas comparações. Sei que antes de tocar a blusa, podia sentir tudo que ela já foi. Não precisei nem ao menos fechar os olhos para lembrar de cada detalhe. Não precisei nem aproximar do meu nariz para saborear seu maravilhoso perfume – e que perfume (!), creio que é o que mais me faz falta -. Queria entender o porque sua ausência se fez tão doce, bastava lembrar do que foi para idealizar o que poderia ser. É engraçado como o antes e o depois se misturam anulando o agora. Idealizei demais o passado fazendo planos para nosso futuro.
Segurando ainda firme a blusa me coloquei a olhar meu corpo, ele não havia mudado totalmente, ainda havia marcas daquela época. Porem, quem parecia ser outra era a blusa, quase uma estranha. Por mais que eu encolhesse todo meu orgulho, não adiantava, a blusa não me pertencia mais, pois já não dava forma ao que eu era. E não era comigo, era somente ela, e somente eu, separadas assim.
Minha decepção foi tão grande que não pude suporta o peso e acabei deixando a tão amada blusa de outra cair no chão. Do chão ela se sujou por inteira fazendo eu tomar gosto pelo esquecimento absoluto.
E talvez se um dia eu voltar ao meu eu anterior, e ela o dela, nós sejamos algo novamente. Caso contrário ela só será algo que não me serve mais. Pois já diria Elis: O passado é um roupa que já não nos serve mais.
(Hoje: Lembro que fiquei pensando nisso no cursinho - ano passado, quando escrevi esse texto inspirada por Elis e também pelos acontecimentos. Nesse dia eu fui até uma rua que não conhecia e esperei, esperei e me decepcionei tanto, pois não houve nada. Só quem entende a história - e até mesmo o porquê de todos esses post - vai ver algum sentindo nesse post.)